GRUPO DE TEATRO CHICO DANIEL

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domingo, 2 de maio de 2010

A ESTÉTICA DO OPRIMIDO


Conjuntos Analógicos,e Conjuntos Complementares A Natureza jamais produz dois seres idênticos: nem dois grãos de areia, nem os fios da minha barba ou gêmeos univitelinos, nem impressões digitais ou duas gotas de chuva, nem as árvores da floresta, nem seus galhos e folhas, nem as estrias de cada folha... nada é absolutamente idêntico a nada.Todas as coisas inanimadas e todos os seres vivos são sempre únicos, irrepetíveis, mesmo se clonados.

Para seres semoventes, humanos ou animais, com um mínimo de vida psíquica, seria impossível viver dentro dessa infinita diversidade se não pudessem organizar a sua percepção do mundo e simplificá-la. Ficaríamos paralisados se tivéssemos que ver e ter consciência de tudo que olhamos; escutar e ter consciência de tudo que ouvimos; tocar e ter consciência de tudo que sentimos, cheiramos e degustamos - tal o acúmulo catastrófico e torrencial das informações recebidas. A Natureza é vertiginosa, mas nós não podemos viver essa vertigem. Felizmente, a Natureza permite a criação de aparências simples das realidades complexas, através da construção de Conjuntos Analógicos e Conjuntos Complementares. Embora simplificações excluam complexidades, outro jeito não há, e somos forçados a realizar o processo psíquico da formação de Conjuntos para nos podermos guiar e viver neste mundo.

Quando, pela primeira vez, o bebê abre os olhos, olha tudo que os seus olhos alcançam e, olhando tudo, nada vê: apenas a cor cinza. Aos poucos, na medida em que o seu nervo ótico começa a ser estimulado pela luz e pela sombra, organiza sua percepção visual distinguindo linhas retas e curvas, profundidades e cores. Quando deixa de olhar tudo ao mesmo tempo, é quando realmente começa a ver – e vê Conjuntos.

Nenhum peixe é absolutamente igual a outro peixe, mas os peixes se assemelham: eis o cardume. Nenhuma rosa é igual à outra rosa, mas todas se parecem, vermelhas, brancas ou amarelas: eis o roseiral. Nenhuma cor é homogênea em toda a extensão do objeto colorido, mas pode-se abstrair as diferenças que, ao microscópio, existem, claras e profundas.

Um astronauta disse que a Terra é azul; nós dizemos que a noite é negra, vermelho o sangue em nossas veias e plúmbeo o céu de chuva...

Sabemos que não é assim: nenhum milímetro é igual a outro. Por analogia, podemos perceber e formar Conjuntos Analógicos, homogêneos, que englobam seres semelhantes, mas não iguais – isto é, Unicidades - em um todo maior, como o coro de um balé, o coral de uma ópera, um batalhão de soldados ou a farinha de um mesmo saco.

Podemos perceber, também, Conjuntos heterogêneos, feitos de elementos Complementares. Não existem dois rios iguais em seu percurso, mas em todos corre água: no caudaloso Amazonas ou no riacho do Ipiranga. Suas margens são diferentes, mas todas oprimem a água que neles corre. As pedras, no leito do rio, são desiguais no peso e na forma, mas parecidas, mesmo quando feitas de matérias diferentes, orgânicas ou minerais.

Margens, águas, pedras, plantas, flores e peixes formam um

aglomerado de coisas inanimadas e de seres vivos, heterogêneos, mas que podem ser percebidos como Conjuntos: podemos ver este rio sem nos determos em cada um dos elementos únicos que o compõem. Podemos nomear como rio todos os Conjuntos que podem ser percebidos como semelhantes a este.

Todos os rios têm a identidade dos rios e sabemos de qual acidente geográfico estamos falando quando falamos do Nilo egípcio ou do Arroyo de la Sierra2 de José Marti.

Podemos perceber a floresta como um Conjunto de árvores semelhantes, mesmo sabendo que não são iguais; o rebanho, como Conjunto de animais da mesma espécie, mesmo tendo cada um o seu feitio, seu focinho e sua fome; podemos ver a multidão como um Conjunto de seres humanos - embora nenhum deles seja igual a nenhum de nós.

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